Cientistas comprovam que prática cristã que visa privilegiar o espírito também gera vantagens ao corpo
Por Marcelo Cypriano / Fotos: Thinkstock e Fotolia
marcelo.cypriano@arcauniversal.com
Prática comum nos tempos bíblicos, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, o jejum consiste basicamente na diminuição ou supressão da dieta alimentícia por tempo determinado. O intuito principal é “matar a carne”, metaforicamente falando: não ceder aos desejos do corpo e privilegiar o espírito, orando e meditando na Palavra de Deus.
Entretanto, pesquisas recentes mostram que deixar o físico um pouco de lado no que tange à alimentação acaba por beneficiá-lo. Um amplo estudo realizado pelo National Institute on Ageing (o NIA, “Instituto Nacional do Envelhecimento”, em tradução livre), de Baltimore, Estados Unidos, concluiu que jejuar em dias alternados pode ajudar na manutenção do cérebro, gerando longevidade e saúde em geral.
O estudo, recentemente divulgado no encontro anual da Associação Americana para o Avanço da Ciência, em Vancouver, Canadá, mostrou que o jejum também ajuda o corpo a combater doenças degenerativas comumente ligadas ao avanço da idade, como os males de Parkinson e de Alzheimer.
Mark Mattson, coordenador do laboratório de neurociências do instituto, diz que diminuir o consumo de calorias pode ajudar o cérebro, mas uma pequena redução não é tão boa quanto quase parar de comer em certos momentos. “Pode ser melhor alternar períodos de jejum, ingerindo praticamente nada, com períodos em que a pessoa come mais à vontade.” Mattson considera suficiente reduzir o consumo diário para cerca de 500 calorias nesses períodos de comer menos – duas vezes por semana, por exemplo –, para já começar a sentir os benefícios.
Cobaias
Em experiências no NIA, alguns ratos de laboratório receberam um mínimo de calorias em dias alternados. Eles viveram o dobro das cobaias que comeram normalmente. Segundo Mattson, como os animais do primeiro grupo comiam menos, seu corpo precisou produzir menos insulina, o hormônio que controla o nível de açúcar no sangue. Altos níveis de insulina são associados à diminuição da função cerebral e a maior risco, obviamente, de diabetes.
Os ratos sujeitos ao jejum também apresentaram maior desenvolvimento de novas células cerebrais e mais resistência ao estresse. Além disso, ficaram menos sujeitos a problemas equivalentes ao Parkinson e ao Alzheimer. O cientista declarou que estudos com humanos também mostraram tais benefícios, além de maior proteção quanto a doenças como a asma. “Restrição energética na alimentação aumenta o tempo de vida e protege os sistemas cardiovascular e nervoso central de males comuns ao envelhecimento.” As pesquisas prosseguem.
Precauções
Mas não é por ter lido isso que alguém vai parar de se alimentar direito e pronto. Antes de fazer alguma besteira, sempre é bom consultar seu médico de confiança. Nem todo mundo pode comer ou deixar de comer determinados alimentos. A capacidade de processá-los e necessidade de certas quantidades de qualquer um deles variam muito de pessoa para pessoa. O profissional da saúde é que pode determinar o que cada um pode ou não comer, de acordo com a realidade daquele corpo em especial (doenças ou tendências a elas, por exemplo). Muita gente come algo que o prejudica a vida inteira, ou deixa de comer algo que ajudaria na manutenção de sua saúde, por pura falta de informação. Também é de bom tom o acompanhamento de um nutricionista.
Jejum cristão
Para os cristãos protestantes não há datas específicas para jejuar, como acontece em outras crenças. A Bíblia mostra bem a questão de “matar a carne” para “alimentar o espírito”. A pessoa percebe que é capaz de vencer motivações egoístas, desejos que o afastam de Deus. Assim, aproxima-se mais dEle.
Além disso, no âmbito cristão, o jejum não diz respeito somente a alimentos e líquidos. Deixar de lado por tempo determinado qualquer coisa ou hábito considerado pela pessoa como indispensável também mostra que ela quer a dependência real de Deus, não cedendo ao coração pura e simplesmente. Há quem deixe de lado certas guloseimas tidas como irresistíveis, como também há aqueles que deixam de acompanhar seu time de futebol por certo tempo, ou algum outro hobby. Nos Jejuns de Daniel promovidos pela IURD, por exemplo, milhões abrem mão de entretenimento pela tevê, aparelhos sonoros ou internet por 21 dias, enquanto oram e estudam a Palavra com os bispos e pastores.
Esse exemplo toca em algo importante que vale ser frisado: para ser eficaz, o jejum não é só a supressão de algum alimento ou atividade. Deve ser acompanhado de meditação na Bíblia ou em outros livros concernentes a ela, além de muita oração. A abstinência temporária, alimentar ou não, também deve ser feita de acordo com a saúde da pessoa, com fatores como a idade. Jejuando, o cristão pode se sentir mais forte espiritualmente, mais resistente a tentações e ao avanço do inimigo.
Porventura não é este o jejum que escolhi, que soltes as ligaduras da impiedade, que desfaças as ataduras do jugo e que deixes livres os oprimidos, e despedaces todo o jugo?
Isaías 58:6
Há quem se vanglorie de estar em jejum, querendo mostrar ser “mais cristão” e poderoso por isso, privilegiando a propaganda em detrimento da entrega real a Deus. Em relação a isso, um recado do próprio Messias – que se retirou para o deserto para jejuar e orar por 40 dias, resistindo ao diabo, que tentou seduzi-lo com falsas promessas:
E, quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas; porque desfiguram os seus rostos, para que aos homens pareça que jejuam. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão.
Tu, porém, quando jejuares, unge a tua cabeça, e lava o teu rosto,
Para não pareceres aos homens que jejuas, mas a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente.
Tu, porém, quando jejuares, unge a tua cabeça, e lava o teu rosto,
Para não pareceres aos homens que jejuas, mas a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente.
Mateus 6:16-18
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